quinta-feira, outubro 25, 2012

Resenhando: Menina Pastora Louca 
Com: Nanda Silveira



Autora: VIRGÍNIA CUNHA BARROS
Editora: CLUBE DE AUTORES
ISBN: EM ANDAMENTO
Formato: A5 148x210
Número de Páginas: 527
Tipo de Papel: Offset 75g
Diagramação: SIMPLES
Acabamento: BROCHURA COM ORELHAS
Preço Versão Impressa: 45,39
Preço Versão E-book: 8,44
Data de Lançamento: 14/08/2012





Começo este resenhando com duas afirmações. A primeira: “Às vezes, é necessário que você leia um mesmo livro duas vezes para conseguir entendê-lo.” A segunda: “Se você se dedica muito por entender a vida, acaba por enlouquecendo no final das contas...” 

Não se preocupem, ao final deste resenhando eu explicarei essas duas afirmações! 



 Laura Rosa é a nossa personagem principal nesta trama. Mas também temos Ariadne, e Sofia – igualmente como personagens principais (sem deixar de mencionar, Percival, e a segunda Ariadne – sim, existem duas Ariadnes na trama). 
A trama de “Menina Pastora Louca” está dividia em várias partes – onde a cada capítulo é focado um dos personagens principais, mencionados acima. Porém, toda a trama é narrada em terceira pessoa, pois mesmo enfocando exclusivamente a vida de um dos personagens, a autora não os deixou que narrassem suas próprias estórias. 
Laura Rosa é a personagem que vive na atualidade. Ela é a Menina Pastora Louca – por isso eu a considerei a Rainha dos demais personagens principais! A trama se inicia quando Laura Rosa é apenas uma adolescente rebelde, querendo se descobrir, ou descobrir as coisas que a rodeiam: 

–– E o que você achou dela? – quis saber Dolores. Erguendo os olhos para a parede, a aluna deu com uma grande cruz onde um pobre homem estava eternamente dependurado. Desviou rapidamente o olhar, sacudindo um pouco a cabeça antes de responder. –– Bom... Dá um pouco de raiva da igreja. Os padres chamavam a crença dos outros de coisa dos demônios! E nem ao menos os conheciam direito (disse Laura Rosa). (Página 12). 

Acredito que esse trecho acima do livro é praticamente o ponto principal da estória. 
Laura Rosa cresce questionando tudo à sua volta, inclusive sua própria vida, seus colegas, seu amor platônico – João Pedro, sua faculdade, e as RELIGIÕES que a rodeiam. Ela chega ao ponto crucial: Igrejas x Igrejas! Sua mãe é Espírita. Sua escola na adolescência era de origens Católicas. Seu colega de faculdade frequenta Centros, e outros colegas são Evangélicos. E por ironia ou destino, ela inicia um estudo bíblico com Testemunhas de Jeová. O desfecho se torna esse: Laura Rosa decide que irá conhecer todas as religiões possíveis, para descobrir qual é a verdade sobre o Deus, que muitos falam, e ver se com isso sua vida dá uma guinada, já que Laura Rosa acredita que se encontrar respostas a estas dúvidas, talvez, se encontre na vida! Laura Rosa se aprofunda tanto em seu “estudo religioso”, que acaba lendo a bíblia por inteira – e a confusão começa! Suas instrutoras religiosas, as Testemunhas de Jeová, alegam nas tardes de estudos bíblicos que não se é permitido a Idolatria para pessoas que almejam a Salvação, afirmando que Santos e a adoração à Maria, mãe de Jesus – é uma forma de Idolatria. Mas em um determinado dia.... 

Enquanto se arrebentava em perguntas, encontrou, sobre a mesa onde estudava uma folhinha. Lembrava que havia pegado aquilo semanas antes, no dia em que fora à missa. Estampava uma imagem de Maria com o Menino Jesus no colo. Anunciavam embaixo: “III Seminário Mariano da nossa Paróquia”. Estavam no mês de Maria, maio, isso ela vira em um cartãozinho que seu irmão trouxera da escola. Por coincidência, Laura Rosa notou que o primeiro dia do seminário era hoje. Lembrava-se bem de dona Graça e mesmo Gabriel, seu colega, avisando sobre o erro que cometem aqueles que rezam para Maria. O horror que Deus tem das imagens, dos deuses de estátuas, dos ídolos, dos... Como não tinha vergonha na cara, Laura Rosa resolveu: –– Preciso dar um jeito nessa vida! E estou aceitando qualquer sugestão. Bem, quase. Vamos ver o que os marianos têm para me dizer. (Página 126). 

E a cada capítulo de Laura Rosa, novas confusões (muitas das vezes, engraçadas) ela se mete, para tentar descobrir o que cada religião tem a dizer. Enquanto isso, nas partes destinadas à Ariadne – o livro se torna um tanto quanto extenso e melancólico. Ariadne vive em épocas antigas, em Corinto. Lá ela mora com seus pais e irmãos, e com seu irmão mais velho, Percival. Ela é uma jovem mimada, e por ser a única filha mulher – é muito mimada por seus pais, e também por seu irmão. Em um determinado dia, Ariadne ganhou de presente de seu pai, uma escrava, ainda criança – para que ela pudesse brincar – como se a escrava fosse um brinquedo. E Ariadne deu à pequena escravinha bárbara (que não entendia sequer uma palavra de sua língua), o nome de Sofia – que vinha de Sophia - Sabedoria. E passou-se os anos até sua juventude, maltratando a escrava, e obrigando-a a fazer todos os tipos de serviços domésticos, por pura satisfação de humilhar a coitada. Mas um desfecho importante veio para mudar tudo isso na vida de Ariadne, e também de Sofia – a criada maltratada. 

 –– Vem, irmãzinha! Vai logo! – o rosto de Percival parecia flutuar diante dos pais, confuso e apavorado. Então, afinal ele tinha medo de perdê-la. –– Ariadne! Foi tão difícil te encontrar! – gritou o pai. – Mais ainda não é tarde demais! Ofereça o sacrifício. Todos pareciam berrar ao mesmo tempo, vendo os cristãos obrigados a descer até a morte, um a um, enquanto o leão não saía da toca. Ariadne e Sofia se olharam. –– Ofereça o sacrifício, Sofia – sussurrou Ariadne, finalmente para o espanto da outra. –– O quê? – de susto, até esqueceu a satisfação que estavam vivendo. Foram empurradas mais para frente. Os leões iam saindo, um após o outro. E estavam mesmo com fome. –– Ofereça! Vá com minha família, e lhes mostre a salvação de nosso Senhor! – implorou Ariadne. (Página 109). 

Em um momento da estória, Ariadne se meteu em confusão e foi salva por um Médico que se aproximou dela, ele era um Cristão – e na época, quem rejeitasse os deuses e passassem a adorar a apenas um Deus – o Deus dos Cristãos – eram jogados em covas de leões para serem devorados. E Ariadne se encantou por esse Deus, levando sua criada Sofia consigo. As duas fugiram juntas com os Cristãos e acabaram tendo esse fim, de serem devoradas por leões – mas nos últimos minutos, Ariadne fez com que Sofia se salvasse daquela morte, na tentativa da criada converter sua família que ficara para trás. Ariadne pensara que se ela mesma se salvasse a família não lhe daria ouvidos, no máximo, a chamaria de louca por ter quase morrido em nome de um Cristo que jamais conheceu. Então Sofia fora a escolhida para tal missão. E... salva dos leões. 
A parte destinada à Sofia relata o caminho de Sofia sem Ariadne, e como ela fizera para converter a família de sua patroa: 
Não conseguiu achar uma bacia para enfiar no quarto, então pegou uma simples tigela cheia de água até a borda. O pai, a mãe e os cinco filhos homens fizeram uma fila, e um a um Sofia foi lhes jogando água na cabeça. Empregados normais seriam descascados por isso, ela pensou, começando a se divertir, quando uma pocinha de água formou-se a seus pés. O último da fila era um rapaz que Sofia bem sabia quem era: o filho mais velho. (Página 126-127). 

Após conseguir realizar a vontade de Ariadne, que era converter sua família, Sofia decide não ficar mais entre eles – já que seus patrões lhe deram a liberdade como escrava. Então Sofia decide partir, para pregar as Boas do Cristo que passara a adorar. Só que ela não sabia que junto dela, iria Percival. Ele alegou que não a abandonaria, pois agora a mesma vivia por ela e por Ariadne também – e esta seria sua forma de ficar perto de sua irmã falecida... Acompanhar os passos de Sofia. Mal sabiam eles que esse envolvimento de ambos, viajando por vários países – geraria uma série de atritos, e também a união permanente dos dois, em casamento. Isso mesmo, a escrava e o irmão de Sofia se casam. Tem uma filhinha, que a chamam de... Tchan, tchan, tchan: Ariadne! Mas a autora não deixa a trama gelar, ela mantém sua estória do início ao fim pegando fogo na panela da criatividade. Muitas outras coisas acontecem com esses dois, que não contarei aqui para que não fique sem graça alguma quando resolverem ler a trama... (hehehehe). 
Voltando para Laura Rosa: Eu não sei se a autora é viciada em algum tipo de droga pesada. Se depois ela me contar que é, eu não vou duvidar (risos). Só sei que “do nada”, Laura Rosa se encrenca com as instrutoras religiosas e decide abandonar o estudo bíblico e todas as outras igrejas que estava frequentando... Eu disse que foi “do nada” que ela desistiu de tudo, certo? Calma, não foi um furo na estória, mas sim porque ela se desentendeu com as instrutoras, mas eu achei que houve momentos na estória que ela poderia ter se desentendido por motivos bem piores, mas não... Por isso mencionei a expressão, “do nada”, antes que alguém venha me criticar. 
Para ocupar seu tempo, Laura Rosa resolve estudar umas coisas muito estranhas, que eu particularmente, nunca ouvi falar. Ela inicia um estudo profundo, através de um blog, sobre o mundo dos sonhos. Onde se alegava que era possível controlar seu sonho, mesmo acordado, permanecer dormindo... Algo desse gênero. Muitíssimo bizarro. E Laura Rosa faz uma série de experiências, onde enfim em um dia, ela consegue ficar na tal transe de estar dormindo, mas consciente da realidade. Aí surge uma gêmea sua. Outra Laura Rosa, mas em versão estranhamente bondosa e malvada ao mesmo tempo. E um joguinho de mentes se inicia. E literalmente Laura Rosa enfrenta um labirinto para poder se entender, e se safar daquele sonho-pesadelo. Estranhamente, deuses gregos aparecem para ajudá-la, um minotauro a queria (literalmente falando) – queria devorá-la, e outras cositas mais – só que ela fora salva por Diana – a princípio uma deusa estátua. Tudo fica muito louco e confuso. Laura Rosa, por não ter sangue de barata, se irrita com sua gêmea do sonho e a mata à cacetadas, e depois a “fulana” volta toda ensanguentada para atormentá-la. É um barato a estória, me deixou com muito medo, mas é sem dúvidas, muito maluca e bacana. Tudo o que Laura Rosa queria era se encontrar na vida, e acho que tudo isso que a aconteceu, desde quando decidiu estudar as religiões até a parte em que entrou em transe em seu sonho, ela conseguiu o que queria... A cada episódio ela foi se encontrando, descobrindo quem era. 
Mas voltando ao início do Resenhando. Por que eu disse que tinha duas afirmações, mesmo? Ah sim. “Às vezes, é necessário que você leia um mesmo livro duas vezes para conseguir entendê-lo”. Sim, sim, sim. Eu li duas vezes esse livro para entender um terço da mensagem que ele tinha a me passar. Incrivelmente, a mensagem é ótima. Laura Rosa, a todo o momento tenta se encontrar no mundo, e quem não é assim? Ela almejou algo e correu atrás para buscar. Quantas vezes na vida nós nos deparamos com algo que duvidamos, que ficamos com um pé atrás, mas que nem nos damos o trabalho de buscar? Laura Rosa foi uma heroína a meu ver, por buscar suas verdades. A outra afirmação fora: “Se você se dedicar muito por entender a vida, acaba por enlouquecendo no final das contas...”. E foi o que Laura Rosa fez. Ela buscou tanto que acabou enlouquecendo em alguns momentos. Ela pirou mesmo. Mas conseguiu seu objetivo. E isso é um fato. Vivemos rodeados por mistérios e segredos. Se almejarmos buscar todos, iremos enlouquecer, sem sombra de dúvidas!!! 
Para mim: Menina Pastora Louca é um dos melhores exemplares já publicados! É um livro inteligente e com uma mensagem a se passar. Eu o leria sem problema algum, por uma terceira vez, quarta ou quinta... É um livro que te prende, que te faz repensar muitas coisas. Não foi criado para evangelizar ninguém e nem menosprezar qualquer religião. A escritora soube mesclar bem isso. A mensagem que se passa é a auto-descoberta, a coragem de buscar por seus sonhos, e jamais desistir deles. O medo que enfrentamos todos os dias da vida, medo de se perder, medo de desperdiçar sua existência nessa terra, medo da morte, medo de ser infeliz, medo de enlouquecer... Medo da solidão! “Menina Pastora Louca” não acaba aqui. Tenho certeza que ele nos renderá muitos risos e motivos de orgulho. Agora, Virgínia Cunha Barros, é só buscar os frutos desse seu projeto literário, incrível.
Por Nanda Silveira
Aos
Fissurados por Livros.

5 comentários:

  1. Kkkk adorei a resenhaaa! Vc que foi uma heroína de ler tudo, Nanda! Eu demorei uns quatro meses pra escrever tudo, mas se vc gostou então valeu a pena! E vc ainda captou a mensagem ! Melhor que eu até... Vc até me animou a continuar escrevendo, flor... Sucesso pra nós xD

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  2. Ah, e não, por incrível que pareça eu nunca usei drogas nem sequer agüento um copo de cerveja, se fizesse isso acho que o efeito seria devastador e não sobraria pedra sobre pedra nas redondezas.

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  3. Gostei da resenha, realmente parece um tipo de história bem diferente, vale a pena ler.

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  4. Olá Imaginários. Há dias que tento entrar em contato com vocês e não recebo nenhuma resposta. Vocês poderiam me mandar o livro para que eu possa ver como ficou, por favor? Aguardo ansiosamente :)

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